quinta-feira, 28 de abril de 2011

PASCOA dorneles pilati opilati soledade-rs upf ucs ulbra A MUSICA MY WAY DE FRANK SINATRA

domingo, 24 de abril de 2011

"A Terra é azul" pilati opilati .com

A Terra é azul, disse o russo Yuri Gagarin quando contemplou em 1961 o globo de que saíra sua pequena cápsula, tornando-se o primeiro homem a fazer um voo orbital.
E que frase. Tão simples e perfeita. Decerto que os cientistas e as pessoas informadas já tinham ideia de que a Terra, vista do espaço, era azul. Mas era preciso mais. Era preciso a testemunha ocular. E Yuri testemunhou. De fato, ela era.
Às vezes me pego a pensar nessa frase: a Terra é azul. E fico imaginando aquele sujeito ali, sozinho, tão longe de casa acalentado somente pelo vácuo e pela vontade de ir até onde ninguém foi.
Dizem que quem vai tão longe nunca mais é o mesmo. Os que pisaram na lua, alguns se tornaram místicos, outros passaram a agir de modo estranho. Nunca mais se é o mesmo.
Yuri, um homem no espaço, aos seus 27 anos, talvez tenha visto a Terra, azul, e pensado que, naquele instante mesmo em que olhava, nascimentos, mortes, assassinatos, crimes e gestos bondosos aconteciam simultaneamente. Aos milhares, aos milhões. Mas não podiam ser vistos de onde estava. Estavam muito pequeninos para serem vistos. Muito pequenos para serem significativos.
Ele não poderia ter dito que a Terra era violenta, que a Terra era cruel ou mesmo que a Terra era feliz ou amorosa. A Terra era, a Terra é azul, foi o que ele disse, portanto. Foi o que ele testemunhou.
Certamente, lá de cima, tentou encontrar, mais ou menos, o lugar onde estariam seu pai, sua mãe, a rua onde cresceu, mas, claro, não conseguiu precisar. Tudo muito longe. No máximo, delimitou uma área vaga onde provavelmente brincara com seus amigos na infância.
Estou certo de que, lá de cima, ele não conseguiria ver também nós dois sob esse teto. Além de tudo, haveria um teto a nos separar dele. Tampouco nós o veríamos. A cápsula tinha apenas dois metros e meio de diâmetro, ainda menor que esta sala onde eu, sobre o tapete, a abraço.
É possível que, quem de perto nos visse, também não nos percebesse diferentes. E, então, não dissesse nada.
Mas eu posso dizer.
E vou dizer estas palavras com a mesma verdade simples que existiu naquele russo de 27 anos, Yuri, quando disse que a Terra era azul.
Ouve.
Como os que foram mais longe do que os outros foram e, por isso, nunca mais foram os mesmos: quero dizê-las para o resto de minha vida.Autor: Alessandro Martins